7º Episódio RioFilme: O Cinema Carioca Na Lente Da História

7º Episódio RioFilme: O Cinema Carioca Na Lente Da História

CINEMA CAPITÓLIO (1925)

Preparados para mais uma jornada incrível pelos cinemas de rua cariocas? No episódio anterior, pousamos no antigo Cine Odeon de 1909, o cinema que tem uma história muito peculiar com a música brasileira de Ernesto Nazareth. Entrevistamos o biógrafo e herdeiro honorário de Nazareth, Luiz Antonio de Almeida. E, hoje, nosso sétimo episódio é sobre o Cinema Capitólio (1925), entraremos na Cinelândia de meados de 1920, no sonho da Broadway Brasileira. A sessão já começou!

O Cinema Capitólio é parte do sonho de um homem, Francisco Serrador, um espanhol radicado no Brasil e proprietário de cassinos, cinemas, teatros e hotéis.  Ele idealizou e construiu nos anos 20, na região central do Rio de Janeiro, sua “cidade do sonho”. A ideia era transformar a nova praça, cercada pelos prédios da Biblioteca Nacional e também do Theatro Municipal, numa versão brasileira da Broadway, unindo arte, diversão e lazer. Batizada inicialmente de bairro Serrador, a área logo seria chamada de Cinelândia, pois ali estavam os maiores cinemas da cidade, verdadeiros palácios como o Capitólio, o Glória, o Palace-Theatre, O Pathé Palace, O Império e o Odeon. Todos estes erguidos por Serrador, que já tinha um império de entretenimento (sobretudo o cinema) espalhado pelo Brasil.


Francisco Serrador em frente ao antigo Cine Odeon.
Revista
Fon-Fon, n. 29, 15-07-1916. 

O Cinema Capitólio foi o primeiro prédio de cinema construído dentro deste ideário de Serrador. Inaugurado em 23 de abril de 1925, na Praça Marechal Floriano, número 52, teve em sua primeira sessão Norma Talmadge e Eugene O´Brien, atores americanos, estrelando o filme “A Voz do Minarete”, filme da First National e “A tarde de um fauno”, produção da Gaumont. Abrilhantando também essa inauguração, a apresentação da Sinfonia do “Guarani”, executada por vinte professores da orquestra da casa. Na época, a imprensa brasileira chegou a dizer que o Capitólio era uma casa de diversões que honrava o grau de desenvolvimento e cultura na cidade do Rio de Janeiro. Além de exibições de filmes, ele era palco para musicais, peças teatrais e danças.

O cinema foi o primeiro arranha-céu carioca, prédio com oito pavimentos, projetado pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart, filho de imigrantes alemãs, mas um brasileiro apaixonado pela sua nação. Vale um parêntese sobre a história desse engenheiro que se destacou mundialmente como projetista inovador. Seus projetos de estruturas abriram novas perspectivas para a utilização do concreto armado, tendo sido autor do projeto de estruturas de obras pioneiras da engenharia brasileira. Ele carrega em sua brilhante biografia a responsabilidade por erguer monumentos históricos em nossa nação, como: Copacabana Palace, no Rio de Janeiro (1923), Hotel Glória, no Rio de Janeiro (1922), Edifício do Ministério da Educação e Saúde Pública (atual Palácio Gustavo Capanema), no Rio de Janeiro (1936-1945), em parceria com Oscar Niemeyer e Lucio Costa. Dois de seus projetos tiveram significado mundial: o edifício “A Noite” (1929), na praça Mauá no Rio de Janeiro, que com seus 24 andares se tornou na época o mais alto do mundo em estruturas de concreto armado; e a ponte sobre o Rio do Peixe, na região de Santa Catarina (1930), hoje denominada Emilio Baumgart. A ponte possuía o maior vão livre conhecido na época (68,50 metros) e foi construída por um método revolucionário devido a sua altura em relação ao rio e às suas repetidas cheias.


Engenheiro Emilio Henrique Baumgart.
Fonte: Escola de Educação Básica Emílio Baumgart.

O Cine Capitólio tinha 1.300 lugares. A fachada ocupava três pavimentos do prédio, era profusamente iluminada, apresentava o título do cinema em cores cambiantes. As poltronas confortabilíssimas, uma galeria imponente para mais de 500 espectadores. Segundo a imprensa da época, a ornamentação interna era distinta e sóbria, mas muito artística. Possuía uma sala de espera luxuosa e uma cabine magnífica de operação, em toda largura do edifício, com quatro máquinas montadas. Havia uma bonbonnière na sala de espera elegantíssima em que as obras de marcenaria artística alternam com os espelhos e móveis de luxo.

Em 1932, passou a se chamar Cine Teatro Broadway, e a lotação foi reduzida para 955 lugares com a reformulação do cinema pelo escritório de arquitetura Gusmão, Dourado & Baldassini. Em 1942, o nome Cine Capitólio foi reinaugurado. Nos últimos tempos, ele foi comprado pelo Grupo Severiano Ribeiro. O cinema continuou até pelo menos 1960, mas uma década depois foi fechado e demolido. Hoje, existe um edifício moderno com fachada de vidro no local. 


Cine Capitólio que na terceira década do século XX passou a se chamar Cine Teatro Broadway.
Fonte: Cine Treasures

Cinelândia da primeira metade do século XX.
Fonte: Arquivo Geral da Cidade do RJ.

Edifício 51, construído no lugar do antigo Cine Capitólio.
Fonte: Google Maps, agosto, 2020.

 

REFERÊNCIAS

CENTRO TÉCNICO DE ARTES CÊNICAS (CTAC). E o Teatro Virou Cinema. Cinema Capitolio. Disponivel: http://www.ctac.gov.br/centrohistorico/teatroXperiodo.asp?cod=155&cdP=5&tipo=Identificacao

MÁXIMO, João. Cinelândia: Breve História de um Sonho. Editora Salamandra, 1997.

JERMANN, Arthur Eugenio. A Técnica do Concreto Armado e Emilio Baumgart. Symposium de Estruturas, Instituto Nacional de Tecnologia, Rio de Janeiro, julho, 1944.

PAMPONET, Roger. SÁNCHEZ, José Manoel Morales. O Engenheiro Emílio Baumgart e a Arquitetura Brasileira em Concreto  Armado da Primeira Metade do Século XX. IX Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas. Rio de Janeiro, maio, 2016.

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